Desde o dia 1º de agosto, os motoristas brasileiros têm acesso à gasolina com 30% de etanol na mistura, conhecida como E30. O governo federal havia previsto que a medida poderia gerar redução de até R$ 0,20 no litro, mas a realidade dos postos mostra um cenário diferente: em muitos lugares, o preço mal mudou e, em alguns casos, permaneceu praticamente o mesmo.
De acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio da gasolina no país passou de R$ 6,19 para R$ 6,17 na primeira semana de setembro — ou seja, queda de apenas dois centavos.
Para entender os motivos, Autoesporte conversou com especialistas do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) e do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), que explicam por que o efeito do etanol sobre o preço não foi tão grande quanto o esperado.
Por que o desconto não se concretizou
O principal fator é o aumento do preço do etanol anidro, que ficou mais caro devido à maior demanda para produzir a nova gasolina E30. Ana Mandelli, diretora executiva do IBP, explica: “Se há necessidade de mais etanol, a procura sobe. As margens são apertadas, e pequenas variações influenciam diretamente o preço final”.
O IBP também ressalta que o cálculo inicial do governo era otimista. Enquanto a previsão era de queda de R$ 0,20 por litro, revisões recentes apontaram redução média de apenas R$ 0,13. Na prática, a análise interna indicava até um leve aumento de R$ 0,01 em algumas regiões.
Além disso, o mercado brasileiro de combustíveis é livre. Cada posto define seu preço de forma independente, e custos operacionais locais — como aluguel, impostos, eletricidade e logística — podem gerar variações significativas dentro da mesma cidade. Por exemplo, em São Paulo, a gasolina pode ser encontrada por R$ 5,99 na Zona Norte e R$ 6,25 em bairros nobres da Zona Oeste.
Composição do preço do litro
Segundo dados da Petrobras, o preço médio nacional da gasolina em setembro de 2025 é de R$ 6,17, distribuído da seguinte forma:
- Distribuição e revenda: R$ 1,04 (16,9%)
- Etanol anidro: R$ 0,98 (15,9%)
- ICMS estadual: R$ 1,47 (23,8%)
- Impostos federais: R$ 0,68 (11%)
- Parcela da Petrobras: R$ 2,00 (32,4%)
Pedro Rodrigues, do CBIE, destaca que esse valor não reflete apenas o custo do combustível, mas também todos os encargos e operações do posto.
Por que aumentar o etanol
O governo justificou a ampliação do percentual de etanol de 27% para 30% por dois motivos principais:
- Ambiental: a mistura reduz emissões de poluentes nos carros, conforme testes da ANP.
- Econômico: diminui a dependência da gasolina importada, protegendo o país de variações no preço internacional do petróleo.
A expectativa é que a transição do E27 para o E30 evite a importação de cerca de 760 milhões de litros de gasolina por ano e aumente a produção nacional de etanol em 1,5 bilhão de litros, com investimento de R$ 9 bilhões no setor.
Futuro do combustível
A legislação brasileira permite elevar o teor de etanol para até 35% nos próximos anos, desde que comprovada a viabilidade técnica, conforme a Lei do Combustível do Futuro (14.993/24). O governo indica que novos ajustes podem ocorrer à medida que a produção e a tecnologia se desenvolvam, buscando maior eficiência ambiental e redução da dependência de combustíveis fósseis.