A BYD deu mais um passo decisivo rumo à consolidação de sua presença no Brasil. Em evento realizado no complexo industrial de Camaçari (BA), a montadora chinesa apresentou os primeiros veículos pré-montados no país: o compacto Dolphin Mini e o SUV Song Pro. Embora esses modelos ainda não sejam destinados ao mercado, eles marcam o início simbólico da operação brasileira da empresa — que promete movimentar o setor automotivo nacional nos próximos meses.
Apesar de ainda estar em fase de testes, a linha de montagem já opera em formato SKD (semi knocked-down), no qual os veículos chegam parcialmente desmontados da China e são finalizados localmente. A produção em ritmo pleno está prevista para o segundo semestre, com expectativa de atingir 50 mil unidades até o fim de 2025. Para 2026, o objetivo é ainda mais ambicioso: alcançar 150 mil veículos ao ano.
Estrutura em transformação
O parque industrial de Camaçari, adquirido da Ford em 2023, está passando por um extenso processo de modernização. A estrutura original, em grande parte, está sendo substituída por novas instalações que atendam às exigências da produção de veículos elétricos. Atualmente, três galpões estão em construção e parte do maquinário ainda aguarda instalação. Apenas metade do espaço já recebeu liberação do Corpo de Bombeiros para operação plena.
No espaço, já estão em funcionamento seis linhas paralelas, sendo duas dedicadas à montagem final. Alguns modelos em fase de validação já circulam por essas linhas, enquanto a outra metade da planta segue em obras.
Expansão e geração de empregos
A iniciativa vai muito além da simples montagem. Segundo Stella Li, vice-presidente executiva da BYD, a empresa está comprometida com o desenvolvimento industrial e tecnológico do Brasil. “Não estamos aqui apenas para montar carros, mas para produzir, inovar e contribuir com a comunidade local”, destacou.
A montadora anunciou a criação de 3 mil postos de trabalho ainda este ano, abrangendo áreas como engenharia, segurança, logística, tecnologia da informação, produção e setores administrativos. Também está em curso o credenciamento de mais de 160 fornecedores brasileiros para abastecer a planta baiana com componentes automotivos.
Montagem hoje, produção amanhã
Embora a operação atual ainda dependa da importação de grande parte das peças — chegando ao ponto de alguns modelos utilizarem até ar importado nos pneus — a BYD afirma que o objetivo é nacionalizar progressivamente a produção. A estratégia depende de incentivos fiscais, atualmente em negociação com o governo, para tornar viável a expansão da linha SKD até que a fabricação integral seja possível.
Empresas como Audi e Jaguar Land Rover já adotam esse modelo no país, mas a expectativa da BYD é que sua operação evolua para um patamar superior, com fábricas completas de estamparia, soldagem e pintura.
Supercarregamento a caminho
A montadora também revelou planos de introduzir no Brasil sua nova tecnologia de recarga ultrarrápida. Batizado de Super e-Platform, o sistema promete carregar as baterias com potência de até 1 megawatt, permitindo uma autonomia de 2 km por segundo de carregamento. Embora ainda sem data definida, a inovação poderá reduzir drasticamente o tempo de recarga dos elétricos da marca.
Com a planta de Camaçari, a BYD aposta no Brasil como peça-chave para sua estratégia global de crescimento. O projeto, que une investimento robusto, inovação tecnológica e geração de empregos, pode reposicionar o país como polo relevante na transição para a mobilidade elétrica.